O caminho para Deus

Cristianismo

(Tradução do texto original: “Le chemin vers Dieu”, do livro LES AMITIES SPIRITUELLES publicado por Sédir, explicando a natureza de seu grupo) 

Seria necessário ver por trás de algumas ideias esboçadas para revestir de uma forma moderna, as imutáveis e místicas certezas, que a poeira da civilização deformou diante de nossos olhares, nos impedindo de compreendê-las.

Acredito que muitas opiniões diversas podem chegar a um consenso, com um pouco de tolerante imparcialidade. Se falar dos mundos invisíveis e das orações, que o racionalista não me tenha por supersticioso. Se admirar os dogmas e o culto do catolicismo, que o socialista ou o libertário não me tratem por clerical. Se afirmar a realidade do milagre, ou a grandiosidade da Virgem, que o protestante não feche este folheto.

Se der pouca importância prática à exegese, que o modernista não me dê de ombros. Se admitir que a pluralidade da existência é possível, se disser que espero que toda criatura seja salva, se lamentar a proliferação das pequenas devoções maquinais, que o católico não se escandalize. Santo Irineu, São Francisco de Sales e o Cura D’Ars tiveram a mesma opinião sobre esses pontos. Se declarar que Jesus de Nazaré é o único Filho de Deus, vindo na carne e ressuscitado corporalmente, que os neo-espiritualistas e os ocultistas não protestem.

 

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Todo mundo, hoje em dia, fala de uma renovação religiosa. Nascida pelo temor da morte, mantida por um utilitarismo egoísta, dirigida pela ambição, ela não é real a não ser para alguns poucos entre nós. Não é do Cura D’Ars, esta terrível exclamação: “Oh! O sacerdote é algo tão grande! Se o compreendesse, morreria!”?

Nunca tão grande número de orações litúrgicas foi recitado, nunca tão grande número de fiéis recebeu a comunhão todos os dias. Nunca as medalhas, as indulgências, as fórmulas piedosas foram repartidas com tanta prodigalidade. E, no entanto, jamais os devotos foram mais murmuradores, os ambiciosos mais rapaces, os luxuriosos mais desavergonhados.

Ousarão dizer que é Jesus quem não mantém suas promessas? A uma dúzia de pobres homens, desgastados e simples, Jesus deu poderes tão formidáveis que o orgulho jamais poderia sonhar: curar os corpos, curar as almas. Com qual medicamento? Quase nada, apenas uma única onda imperceptível de compaixão. Mas, esses homens eram seus discípulos, já não desejavam nenhuma beleza do mundo, nenhuma das formas da imensa Natureza, nem de tudo o que existe. Não desejavam nada além do que É. Depois, seus próprios discípulos, e os discípulos desses discípulos persistiram nessa abnegação e o Espírito permaneceu com eles e os milagres continuaram brotando sob suas mãos veneráveis. Mas, e depois, o que aconteceu? Por que as palavras do Mestre não curam mais os enfermos, não iluminam mais os corações manchados?

Deverei ir, então, até a filosofia, até a ciência, para substituir o inefável Verbo, ao qual a Terra pôde agarrar-se há dois mil anos?

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