Senhor, Eu Venho a Ti

Poemas

Por Josefa Rosalía Luque Álvarez
Argentina – 1893 – 1965

Ao ver que morre a penumbra de ouro
entre pálidos véus de safira,
corto depressa as redes da vida.
E buscando consolo venho a Ti.
Me cansa a dor das criaturas,
me atormenta sua profunda incompreensão,
seu afã por míseros prazeres;
e Tu esperando sem queixar-Te… Amor!
Quando a sós me encontro no Santuário
onde aos que amas espera-os Tu,
descanso em Ti minha carga de ansiedades…
e em brancas rosas se torna minha cruz.
Não vibra a alma se não está contigo;
é penoso arrancar-me de teu festim;
a teu lado as horas são tão breves
que séculos passaria sem sentir.
São de aço as redes que na Terra
nos aprisionam a coisas mil
que entorpecem os vôos às almas
que não vivem, Senhor, mais que por Ti.
Até à doce solidão tranqüila
onde sempre te espera o coração
chega às vezes rugindo a tempestade
que arrasta aos incautos no turbilhão.
Salva-me, Amor, da inconsciência obscura,
que não fique minha lâmpada sem luz!
É noite na Terra se estás longe,
é incerto o andar se faltas Tu.
Todo mal se derrama neste mundo
como uma torrente que não tem fim.
Eu não quero afogar-me nesse lodo
e é por isso, oh Senhor! Que venho a Ti.
E me sinto segura se a teu lado
me refugio com crescente afã,
fortaleza de rocha é tua presença
e ternura infinita é tua piedade.
Doce Amor que me buscas se te busco
e que todo te dás se venho a Ti;
ficas com minhas penas quando choro
e todo teu esplendor me dás!
Eu venho a Ti quando morre o dia,
e venho a Ti quando clareia do sol
buscar tua palavra, que me diz:
“o fiel de tua balança é o amor”.
Eu venho a Ti quando a lua reflete
como um disco de prata no azul
e cravo os olhos em seus reflexos
porque sei que até neles estás Tu.
Venho a Ti quando ruge a tormenta
e rompe suas cadeias o furacão,
e só em pensar-Te estás comigo
desfolhando os lírios de tua paz.
Eu venho a Ti quando a dúvida assalta
qual pirata minha fortaleza interior,
e escuto que lhe manda a tua voz:
“não dês um passo porque velo eu”.
Eu venho a Ti quando minha fé vacila
sacudida por dura tempestade,
e tua voz chama a alma que adormece
como um menino cansado de chorar.
Senhor, que aplacas as dores grandes
e coroas de paz o coração!…
Que poder sobre-humano tens, dize-me,
na magia divina de tua voz?
E te busco na luz das estrelas
que bordam hieróglifos sem fim,
seguindo de tuas órbitas o rumo
num campo infinito de safira.
Não compreendem às vezes as criaturas
da alma que te busca, a ansiedade;
nem acertam o porquê de suas angústias
quando deixam de ver tua claridade.
É verdade que há belezas na vida
que são um prisma de cores mil;
mas para a alma que te encontrou em sua senda
nada supera ao que encontra em Ti.
Senhor… eu venho a Ti!… Se as pradarias
de suas flores me dão o esplendor,
aonde hei de levá-las, senão ao altar
onde a alma te encontra na oração?
Tudo és Tu, Amor dos que te amam,
clara fonte de ternura e paz,
estrela do cansado caminhante,
livro aberto que ensina a verdade!
Chega a dor com seu cortejo escuro
chega gelada também a decepção,
mas tudo resvala sobre a alma
que no seu eterno caminho te encontrou.
Tudo és Tu para o que te buscou
com ânsias de beber tua clara luz,
te segue incansável ainda que o leves
a morrer no alto de uma cruz.
Que a morte é um êxtase contigo
e esplendores de aurora e arco-íris,
é passar de um escuro calabouço
às moradas do radiante sol.
É um canto nupcial que não termina,
é um abraço que se estreita mais;
morrer por Ti, Senhor, é confundir-se
com a Eterna Harmonia Universal!

FIM

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