Cristianismo
MADAME J. M. B. DE LA MOTHE-GUYON
(1648 – 1717)
“Que o julgamento corra como água e a justiça como uma correnteza poderosa” – Amos v.24
Parte – I
CAPÍTULO I
ALMAS SOB A INFLUÊNCIA DIVINA SÃO IMPELIDAS À BUSCAREM À DEUS DE FORMAS DIFERENTES – SÃO TRÊS ESTAS FORMAS E SERÃO EXPLICADAS POR ANALOGIA
Uma alma sob a influência divina, em seu retorno verdadeiro e sincero, ultrapassando a primeira purificação efetuada pela confissão e a contrição, recebe uma comunicação em seu interior. Deus comunica a ela um certo instinto de retorno, a fim de que ela retorne à Ele da forma mais completa possível, para que se una à Ele. A alma sente, nesse momento que não foi criada para os divertimentos e futilidades desse mundo, mas que possui um centro e um fim, que deve ser seu objetivo de retorno, e fora do qual não deve encontrar repouso algum. Tal instinto é implantado na alma, de forma profunda, profundidade que varia segundo os desígnios de Deus. Contudo, todas possuem um amor impaciente pela purificação, e o desejo de adotar os caminhos e meios necessários para retornarem à sua fonte e origem, como os rios que depois de deixarem sua fonte, fluem continuamente de encontro ao mar. Observem que alguns rios se movem de forma grave e lenta, outros com grande velocidade; mas há rios e torrentes que correm com uma impetuosidade assustadora, sem que nada os possam deter. Todas as barreiras e obstruções para impedirem seu curso, só servem para redobrar sua violência.
O mesmo se passa com algumas almas. Algumas seguem silenciosamente em direção à perfeição, e nunca atingem o mar, ou atingem de forma demorada, satisfeitas por entregarem-se a si mesmas a rios mais fortes e rápidos, que os carregam junto de si até ao mar.
Outros, que formam a segunda classe, correm de forma mais pronta e vigorosa do que os rios da primeira classe. Estes carregam consigo um punhado de riachos; mas, são lentos e ociosos em comparação à classe anterior, pois correm com tanta impetuosidade, que se tornam totalmente inúteis: não estão disponíveis para navegação, as mercadorias não são confiadas à eles, a não ser em certos trechos e em certas épocas. São rios ousados e bravos, que quebram contra as pedras, que aterrorizam pelo barulho, e que não param diante de nada.
A terceira classe é mais agradável e útil, sua gravidade é aceitável, são carregados de mercadorias e podemos navegar por eles sem medo ou perigo.
Vejamos, com o auxílio divino, estas três classes de pessoas, sob as três imagens simbólicas propostas.